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Nos 20 anos da queda do Muro de Berlim

Segunda-feira, 09.11.09

Um fim de semana mais relaxado do que o habitual permitiu reler uma obra já antiga (1997) e ler de uma assentada uma obra nova (2009), sendo que ambas têm entre si um denominador comum: analisam, sob diferentes prismas - o prisma do actor participante nos acontecimentos e o prisma do historiador atento ao seu tempo - um dos factos maiores da nossa história contemporânea: a queda do Muro de Berlim, acontecida precisamente faz hoje 20 anos. «Yo quise la unidad de Alemania» (não existe tradução portuguesa, que conheça) de Helmut Kohl e «Revolução 1989. A queda do império soviético» de Victor Sebestyen reflectem e analisam aquele que muitos historiadores e politólogos consideram como sendo o momento que, do ponto de vista político, colocou um ponto final no século XX, dando por encerrada a ordem internacional que foi a do pós-segunda guerra mundial, contratualizada na Conferência de Ialta e que, basicamente, repartindo o continente europeu em duas grandes esferas de influência, que eram as das grandes potências emergentes do conflito mundial (EUA e URSS), se caracterizava basicamente por uma palavra - divisão: duas Europas, duas Alemanhas, duas cidades de Berlim, duas organizações militares (NATO e Pacto de Varsóvia), dois blocos económicos (CEE e COMECON). Foi este mundo e esta ordem internacional que começaram a ruír faz hoje precisamente 20 anos, no preciso dia em que a Nação (alemã) e os seus anseios de liberdade se sobrepuseram aos Estados (RFA e RDA), abrindo de par-em-par as portas para o reencontro da Europa consigo própria e com a sua história, encerrando esse período de divisão que só pode ficar registado na História europeia como um breve parêntesis ou nota de rodapé, pese embora os elevadíssimos custos humanos que teve, em incontáveis vidas que se perderam nas batalhas travadas pela chegada desse momento.

A nós, a todos aqueles a quem foi dada a possibilidade de assistir, ainda que via TV, mas quase sempre em directo e ao minuto, a tais eventos faz bem retornar aos textos históricos que reconstroiem e relembram tais acontecimentos. É que, à distância de 20 anos, já nos podemos dar conta da importância e da transcendência dos factos, do seu relevo em termos históricos, coisa que, eventualmente, no momento, a euforia que nos invadia impedia que discerníssemos com rigor e com clareza. É também por isso que os dois livros referidos são úteis: recordando-nos o essencial dos factos ocorridos e testemunhados, recorda-nos que tivemos a felicidade de viver um daqueles momentos e uma daquelas épocas que não deixarão de figurar nos compêndios de História, sobretudo da História da Europa. E são poucas aquelas gerações que se podem orgulhar de ter sido contemporâneas de momentos dessa natureza e dessa importância. A nossa pode.

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publicado por Joao Pedro Dias às 01:36