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À França os seus agricultores, ao Reino Unido os seus bancos

Sexta-feira, 16.12.11

"Acusado de isolacionismo por causa da sua posição clara na cimeira da UE de 9 de dezembro, sobre o crescimento e o pacto de estabilidade, David Cameron está apenas a proteger, tal como outros líderes europeus, os interesses vitais do seu país, escreve uma colunista britânica. As acusações de “isolamento” feitasa David Cameron desde que, no Conselho Europeu de sexta-feira, desafiou os seus parceiros europeus, podem ser prematuras. Os checos também já perguntam, alto e bom som, porque é que um novo tratado tem de ser vinculativo para países que ainda nem sequer aderiram ao euro. O primeiro-ministro finlandês avisou que não concorda com a transferência de soberania. A Irlanda, muito provavelmente, terá de realizar um referendo. Os governos holandês e sueco precisam do apoio dos partidos da oposição que se mostram rebeldes.  Estão a aparecer fendas num acordo que, de qualquer maneira, não vai salvar o continente. A queda do euro, nos últimos três dias, prova que os mercados sabem que a receita alemã de austeridade sem crescimento não é a solução. Defender os banqueiros nunca seria uma posição popular – apesar da opinião pública britânica mostrar que veementemente que odeia mais a UE do que os bancos. Então, porque é que Cameron decidiu entrar na batalha pela City? Nas informações que recebeu na semana passada era evidente a profunda mudança de atitude da UE, nos últimos anos, em relação à City. Até 2007 a regulamentação da UE trabalhou, em grande parte, a favor de Londres, criando condições equitativas nos serviços financeiros. Depois, as coisas começaram a mudar. As preocupações legítimas com a crise financeira, articularam-se convenientemente com o ressentimento contra a proeminência de Londres, expresso na alegria com que Nicolas Sarkozy classificou a nomeação de um francês como comissário do Mercado Interno como “uma derrota para o capitalismo anglo-saxónico”.  

Tamanho único para todos

A questão não é a taxa sobre transações financeiras, em relação à qual o Reino Unido mantém o seu veto. Mas sim as 29 diretivas que estão em cima da mesa da UEe o novoregulador financeiro da UE que supervisiona todos os países. É o choque fundamental entre o desejo da UE que quer impor uma regra do género “tamanho-único-que-serve-a-toda-a-gente” aos oito mil bancos da Europa e a visão anglo-americana segundo a qual a ação deve ser adaptada ao risco. O reino Unido quer obrigar os maiores bancos a manterem mais capital do que a UE permite. A mais recente imposição da UE defende que as câmaras de compensação que usam euros nas suas transações devem estar localizadas dentro da zona euro. É uma tentativa flagrante para transferir os negócios de Londres para Paris e para Frankfurt – e um flagrante ataque ao mercado único. Acusar Cameron de tentar minar o mercado único, tal como o fez esta semana o presidente da Comissão Europeia, é uma vergonhosa distorção dos factos. Os espanhóis vetam nas pescas; os franceses vetam na Política Agrícola Comum; e até os alemães exercem algum bloqueio para defenderem a sua indústria automóvel. Na noite de quinta-feira, o governo britânico defendeu, simplesmente, igualdade de tratamento para a City e não um estatuto especial. Mas foi considerado excessivo: uma resposta extraordinária e uma demonstração drástica da perda de influência que o Reino Unido tem sofrido nos últimos anos. O que vai acontecer agora que o primeiro-ministro não conseguiu obter o que queria? Muitos observadores da City temem que Londres passe a ser cada vez mais discriminada com a regulamentação da UE e que os bancos norte-americanos e alemães, quando tiverem de fazer despedimentos, comecem por fazer esses cortes de pessoal em Londres. Outros, dizem que os bancos norte-americanos se instalam em Londres porque é um bom sítio para fazer negócios e que ninguém desocupa 60 andares de um prédio de escritórios com ligações digitais caras da noite para o dia. 

Uma porta para o mundo

O futuro da City está em ser uma porta para o mundo, não apenas para a Europa. O Reino Unido dá origem a mais empréstimos transfronteiriços do que qualquer outro país. O nosso mercado de câmbios é o maior do mundo, o nosso setor segurador é o terceiro maior do mundo. Enquanto o crescimento da Europa se evapora, a verdadeira concorrência a Londres está em Hong Kong e Singapura, não em Frankfurt ou em Paris e nem sequer em Nova Iorque. O grande desafio e agarrar esse negócio.  Independentemente da forma como se olha para este assunto, a diplomacia é horrível. O Reino Unido não quer causar problemas ao euro ou ser visto como tal. Os nossos parceiros estão a fazê-lo muito bem sozinhos, sem a nossa ajuda. Se o Banco Central Europeu, na semana passada, não tivesse atirado uma boia de salvação aos bancos da Europa, avançando-lhes crédito praticamente ilimitado, estaríamos agora a assistir a uma derrota em vez de uma oscilação dos mercados.  Na semana passada, ninguém conseguiu o que queria. Os franceses queriam que o BCE emitisse mais moeda. Os alemães queriam consagrar as novas regras de comportamento económico com toda a força das instituições da UE. Outros, incluindo o Reino Unido, queriam que a Alemanha percebesse que, enquanto não aceitar a sua responsabilidade na crise da zona euro, a moeda continuará em derrocada." [Fonte]

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publicado por Joao Pedro Dias às 03:25