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Numa Europa com traços esquizofrénicos, há opiniões para todos os gostos: «"Esqueçam a Grécia. É Portugal que vai destruir o euro"»

Quinta-feira, 26.01.12

"Um "default" é acidente. Dois já é uma crise sistémica. Quem o diz é Matthew Lynn, presidente executivo da Strategy Economics, sublinhando que Portugal voltará a ter um importante papel no palco mundial. Mas pela negativa. Ao Negócios, diz que o incumprimento português é inevitável. "É apenas uma questão de tempo".

 

Matthew Lynn, CEO da consultora britânica Strategy Economics , traça um cenário sombrio para a Zona Euro.E dizque Portugal será o responsável pela queda do euro.

 

No seu mais recente artigo de opinião, publicado na "Market Watch", na sua coluna intitulada "London Eye", Lynn começa por relembrar a importância do País para a história mundial, com a assinatura do Tratado de Tordesilhas, que dividiu o mundo não europeu entre Espanhae Portugalem 1494. E salienta que 2012 pode ser o ano em que Portugal volta ao centro do palco mundial. Como? “Fazendo o euro ir ao ar”, responde.

 

“A Grécia já estoirou – e o seu incumprimento está já descontado pelo mercado. Mas Portugal está precisamente na mesma posição (…). Está também a resvalar para um inevitável ‘default’ das suas dívidas – e quando isso acontecer, vai ter um efeito devastador para a moeda única e infligir danos ao sistema bancário europeu, que poderão revelar-se catastróficos”, escreve Lynn, autor de dois livros de economia: "The Billion-Dollar Battle: Merck v. Glaxo and Birds of Prey: Boeing v.Airbus" e Bust: Greece, the Euro and the Sovereign Debt Crisis.

 

O analista e consultor britânico compara a situação de Atenas e de Lisboa, destacando que “Portugal - um dos países mais pobres da União Europeia, com um PIB per capita de apenas 21.000 dólares, significativamente abaixo dos 26.000 dólares da Grécia – fixou metas de redução do seu défice de 4,5% em 2012 e de 3% em 2013”.

 

“Então e como está a sair-se?”, questiona-se. E responde: “Quase tão bem como a Grécia – ou seja, nada bem. Prevê-se que a economia grega registe uma contracção de 6% este ano e Portugalnão fica muito atrás – o Citigroup estima que a economia ‘encolha’ 5,7% em 2012 e mais 3% em 2013”.

 

Matthew Lynn recorda o estudo da Universidade do Porto, divulgado na semana passada, que diz que a economia paralela aumentou 2,5% no ano passado e que representa agora cerca de 25% da actividade económica em Portugal. “E não há qualquer expectativa de que isso vá mudar em breve. As empresas portuguesas simplesmente não conseguem sobreviver a pagar as taxas de imposto que lhes foram impostas”, refere o especialista.

 

“O resultado qual será?”, pergunta. E volta a responder: “Os objectivos de redução do défice não vão ser cumpridos. No início deste mês, o governo reviu em alta a previsão do défice, de 4,5% para 5,9% do PIB este ano. Se a experiência grega for válida, esta meta continuará a ser revista em alta. A economia encolhe, cada vez mais pessoas transitarão para a economia subterrânea para sobreviverem e o défice continuará a crescer”.

 

“Em resposta, a União Europeia exige mais e mais austeridade – o que significa, muito simplesmente, que a economia continuará a contrair-se ainda mais. É um círculo vicioso. Se alguém souber como sair dele, então está a guardar o segredo para si próprio”, comenta Lynn.

 

Juros da dívida a escalarem

 

O comentador da "Market Watch" recorda o corte do “rating” da dívida soberana de longo prazo de Portugal, para nível de “lixo”, por parte da Standard & Poor’s. Das três principais agências, só faltava a S&P para a dívida pública de Portugal ser colocada na categoria “especulativa” – ou seja, não é considerada “digna” de investimento, atendendo aos riscos que os investidores correm de não serem reembolsados.

 

Segundo Matthew Lynn, haverá mais “downgrades”. “Os juros da dívida estão a disparar. Na semana passada, as ‘yields’ das obrigações a 10 anos superaram os 14%. E deverão subir ainda mais”, prognostica. O analista relembra que a maturidade a 10 anos da dívida soberana grega já está com juros de 33%e dizque “não há qualquer razão para as ‘yields’ da República Portuguesa não atingirem os mesmos níveis”.

 

“E isso é importante”, sublinha. Isto porque, adianta, a crise grega poderia até ser vista como um caso especial. “Mas não a de Portugal. Não houve ‘manipulação’ nos números [Portugal] não registou défices excessivos – com efeito, quando caminhávamos para a crise de 2008, o País apresentava défices de menos de 3% do PIB, bem dentro das regras impostas pela Zona Euro. Não era irresponsável. O problema, muito simplesmente, é que Portugal não conseguiu competir no seio de uma moeda única com economias muito mais fortes. Agora, o País está a mergulhar numa depressão em toda a escala – tão má como o que se testemunhou nos anos 30 [Grande Depressão] – devido à união monetária”.

 

“Vai ser tão grave como na Grécia. E talvez até pior”, vaticina.

 

Lynn refere igualmente que os bancos europeus estão mais expostosa Portugaldo que à Grécia. “No total, os bancos têm uma exposição de 244 mil milhões de dólaresa Portugal, contra 204 mil milhões de dívida grega”, segundo os dados do Banco de Pagamentos Internacionais citados pelo antigo colunista da Bloomberg News e responsável pela “newsletter” da área financeira desta agência.

 

“O grosso da dívida portuguesa é detido pela Alemanha e pela França. Mas estes são os dados oficiais. É bem provável que grande parte da dívida privada, que é mais substancial do que a dívida pública, seja detida por bancos espanhóis. E estes já estão frágeis. Conseguirão assumir as perdas? Talvez, mas não apostaria a minha última garrafa de vinho do Porto nisso”, comenta Matthew Lynn.

 

Em seguida, diz o ex-colunista da Bloomberg, esta situação também irá repercutir-se na moeda única. “Se um país entrar em incumprimento, dentro de uma união monetária, isso pode ser visto como um acidente infeliz. Todas as famílias têm uma ovelha negra. Mas quando um segundo país cai, o caso fica muito mais sério. A ideia de que isto é culpa de alguns governos irresponsáveis vai deixar de ser sustentável. A explicação alternativa – a de que o euro é uma moeda disfuncional – vai ganhar mais peso”.

 

Segundo Lynn, “um incumprimento da dívida soberana por parte de Portugal desencadeará uma retirada da Zona Euro – e neste momento, parece que esse poderá ser o motor que desencadeará o colapso do sistema”. “Foram cinco séculos de espera. Mas agora Portugal poderá estar prestes a desempenhar de novo um papel central na economia global”, conclui o especialista da área financeira.

 

"É apenas uma questão de tempo"

 

Ao Negócios, Matthew Lynn reafirmou o que diz no seu artigo de opinião. Questionado sobre se há alguma possibilidade de Portugal não entrar em incumprimento, responde que não. “Penso que é inevitável um ‘default’ de Portugal, caso se mantenha no euro. Quando uma economia está a encolher 5% ao ano, é impossível que a dívida fique sob controlo. Por isso, as dívidas vão ficando cada vez maiores”.

 

“A única coisa que poderia evitar o incumprimento seria uma ampla ajuda financeira por parte do resto da Zona Euro. Isso estabilizaria a dívida e daria à economia uma hipótese de crescer. Mas isso não vai acontecer – por isso, o ‘default’ é a única opção. É apenas uma questão de tempo”, disse ao Negócios." [Fonte]

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publicado por Joao Pedro Dias às 01:55

Jacques Delors em entrevista

Sábado, 03.12.11

Jacques Delors, em entrevista ao Daily Telegraph veio, uma vez mais, a terreiro criticar a acção tardia dos responsáveis europeus e a gestão da moeda única. Esta é outra voz que merece ser escutada. E que, contrariamente ao que é invocado por alguns, não se limita a ser um teórico ou um sonhador do movimento europeu. Foi um seu construtor, e dos meias empenhados e emblemáticos, no período em que a construção do projecto europeu era uma missão que unia as duas grandes correntes do pensamento político europeu - a democracia-cristã e o socialismo democrático. Delors enfileirava nesta última corrente, mas o seu labor em prol do projecto europeu ficará escrito de forma imorredoura na história europeia, colocando-o ao lado de alguns dos nossos maiores. Mesmo que dele discordemos em aspectos ideológicos, é outra daquelas vozes que além de se fazerem ouvidas devem ser escutadas.

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publicado por Joao Pedro Dias às 20:02

Merkel: Nenhuma cimeira vai resolver a crise do euro

Quinta-feira, 27.10.11

 "A chanceler alemã disse hoje à imprensa que nenhuma cimeira de líderes europeus vai resolver a crise orçamental europeia. É necessário atacar a raiz do problema pela redução da dívida e através de reformas.“Creio que chegámos ontem a um bom acordo para darmos os passos seguintes” no processo de resolver a crise da dívida europeia, disse Angela Merkel à imprensa em Berlim, citada pela Bloomberg. “Ainda nos falta dar muitos passos, como se vê nas reformas estruturais que foram anunciadas em países como Itália, Espanha e Grécia. Por isso não se pode utilizar uma única cimeira para atingir esse objectivo, temos é de continuar a trabalhar juntos nas questões estruturais”, salientou.  A líder do Governo alemão rejeitou ainda comentar o programa de compra de obrigações que está a ser levado a cabo pelo Banco Central Europeu (BCE), escudando na independência da autoridade monetária europeia. “O BCE é uma instituição independente” que sempre encorajou os líderes dos países da União Europeia a assumir responsabilidades na política orçamental, cabendo-lhe a si controlar a política monetária. Para Angela Merkel, a expansão das competências do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) vai permitir uma melhor “divisão do trabalho”, referiu." [Fonte

 

Talvez fizesse mais sentido a Senhora Chanceler afirmar que não permitirá que nenhuma Cimeira resolva a crise do euro....

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publicado por Joao Pedro Dias às 20:02

Barroso e Merkel admitem alterações ao Tratado de Lisboa

Quarta-feira, 05.10.11

"O presidente da Comissão Europeia e a chanceler alemã admitiram hoje em Bruxelas a necessidade de se proceder a alterações ao Tratado de Lisboa, para melhorar o funcionamento da Zona Euro e aumentar a confiança dos mercados. Numa conferência de imprensa conjunta no final de uma visita da chanceler alemã à sede da Comissão, em Bruxelas, Angela Merkel e Durão Barroso disseram que uma alteração ao tratado deve ser encarada sem tabus, já que poderá revelar-se necessária para travar a crise da dívida soberana. “Não devemos excluir a possibilidade de alterações ao Tratado. Queremos que o euro seja um sucesso e, por isso, temos de disponibilizar os meios para atingir esse sucesso”, afirmou Merkel. Também Durão Barroso repetiu uma mensagem deixada já na semana passada no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, afirmando que “poderá ser necessário alterar o Tratado com vista a uma maior integração (europeia) se os actuais mecanismos se revelarem insuficientes”. “Não estamos a propor uma alteração ao Tratado para evitar as decisões que temos de tomar agora. Não é uma forma de adiá-las, porque algumas têm de ser tomadas já. Mas sim, provavelmente, no futuro, poderá acontecer que precisemos de alterações ao Tratado”, disse. O presidente do executivo comunitário acrescentou que o facto de se estar agora a falar em alterações ao Tratado “é também uma boa indicação para os chamados mercados e investidores” de que há uma vontade de caminhar rumo a “uma maior integração na UE e na Zona Euro e não menos Europa”." [Fonte]

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publicado por Joao Pedro Dias às 23:03

Trichet : " Precisamos de um Ministério das Finanças europeu"

Terça-feira, 04.10.11

"O presidente do Banco Central Europeu defendeu a necessidade de criar um Ministério da Finanças europeu. Na sua intervenção perante o Parlamento Europeu, Jean-Claude Trichet sublinhou a necessidade de que sejam feitos progressos significativos para uma maior unidade política." [Fonte]

 

Só no final do seu mandato Trichet parece despertar para a realidade. Uma zona económica, para ser perfeita, não pode confiar a defesa de uma moeda única a 17 administrações nacionais. Requer um mínimo de governação europeia: uma estrutura política permanente, um reforço do orçamento comunitário, um tesouro europeu, uma fiscalidade europeia. Pelo menos, isto. Só assim conseguirá fazer face às ameaças que impendam sobre essa mesma moeda. Sem estes instrumentos, o euro será sempre uma obra imperfeita e incompleta. Inacabada. Que suscitará sempre dúvidas e reservas junto dos mercados. A questão do momento é saber se a Europa ainda irá a tempo de suprir as falhas e colmatar as omissões. Se para tanto terá tempo, arte, engenho e ...... lideranças à altura.

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publicado por Joao Pedro Dias às 23:46

O Tratado de Lisboa e a expulsão da zona euro

Quinta-feira, 08.09.11

"O Tratado de Lisboa impede a saída de países da Zona Euro, disse a Comissão Europeia, depois do primeiro-ministro holandês Mark Rutte ter afirmado que deveria ser considerada a saída da Grécia da moeda única europeia. «Nem a saída nem a expulsão da Zona Euro são possíveis, de acordo com o tratado de Lisboa, que define que a participação no euro é irrevogável», afirmou Amadeu Altafaj, porta-voz do comissário europeu para os assuntos monetários e financeiros, Olli Rehn, em conferência de imprensa. Na terça-feira, Mark Rutte e o ministro das Finanças holandês, Jan Kees de Jager, apelaram à aplicação da «sanção mais elevada», a expulsão de um país, debaixo de um novo regime que poria as economias em dificuldade na Zona Euro debaixo da administração dos parceiros da Zona Euro. «No futuro, a sanção mais elevada seria forçar os países a abandonar o euro», escreveram os dois responsáveis holandeses numa coluna de opinião no jornal «Financial Times». Altafaj garantiu que «não há qualquer debate relativo a essa eventualidade». O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, defendeu também uma posição mais dura face à Grécia, dizendo no parlamento alemão que vai fazer o necessário para «que sejam feitas as alterações necessárias ao tratado para que se possa agir mais rapidamente e com maior eficácia quando as coisas correm mal». Esta quinta-feira, o Governo holandês veio defender uma revisão dos tratados europeus para permitir a expulsão da Zona Euro dos países que, no futuro, não queiram ou não consigam cumprir o Pacto de Estabilidade. Jan Kees de Jager afirmou que «se um país não quiser obedecer aos requisitos, então não há outra opção senão deixar a Zona Euro mas só como último recurso»". [Fonte]

 

Há momentos e alturas em que um pouco mais de rigor, inclusivé por parte da Comissão Europeia, não faria mal a ninguém! O Tratado de Lisboa não prevê (o que é diferente de proibir) a saída de um Estado da zona euro, como sanção, se este incumprir os respectivos critérios de convergência; defender, porém, nesta altura da crise europeia uma alteração dos Tratados que contemple tal hipótese, raia a completa insanidade. De tudo aquilo que a Europa menos precisa, no momento presente, é envolver-se e enrodilhar-se em mais intermináveis discussões sobre questões de repartição de poder em torno dos Tratados. Sobretudo quando, de antemão, se sabe que tal tarefa estaria condenada ao completo insucesso - atendendendo ao facto e ao pormenor, simples mas que parece ter sido esquecido pelo governo holandês, de que qualquer alteração aos Tratados necessitaria, sempre, do voto favorável de todos os Estados da União, inclusivamente daqueles que poderiam vir a ser objecto da sanção da expulsão da zona euro. Por outro lado, mas da mesma forma, nos Tratados também não se contempla a saída voluntária de um Estado da zona euro. Mas defender que a adesão ao euro por parte dos Estados que a ele aderiram é uma decisão irrevogável constitui uma absoluta aberração jurídica! No momento em que o próprio Tratado de Lisboa veio prever a própria situação de um Estado abandonar a União Europeia, carece em absoluto de qualquer sentido sustentar que a adesão à moeda única seria irreversível.

 

Mas é também nestes momentos e nestas alturas, quando há que lançar pistas para o debate sobre o futuro da Europa, que nos apercebemos do quão débil e fraca é a classe política dirigente que leva os destinos desta cada vez mais (des)União Europeia. Estadistas de excepção e líderes de excelência nunca contribuiriam para envenenar e intoxicar o debate europeu com propostas que raiam o absurdo e que antecipadamente estariam condenadas ao fracasso. Triste destino este, o nosso....

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publicado por Joao Pedro Dias às 23:31

Um paradoxo meramente aparente

Segunda-feira, 15.08.11

"O Ministro das Finanças britânico, George Osborne, pediu esta segunda-feira aos países da Zona Euro que avancem numa maior integração orçamental, de forma a transmitirem confiança à economia mundial. A Zona Euro «deve agora demonstrar seu compromisso com uma maior integração orçamental e com disposições de governação que evitem o risco moral e reforcem a responsabilidade fiscal», disse Osborne, num artigo em co-autoria com o seu homólogo de Singapura, Tharman Shanmugaratnam, publicado no «Financial Times». Na semana passada, Osborne já exortou os seus homólogos da Zona Euro a tomarem rapidamente todas as medidas necessárias, incluindo a criação de «euro-obrigações» (Eurobonds), para evitar a desintegração da moeda única, «o que seria um desastre económico, inclusive para o Reino Unido»".

 

Parece paradoxal - contra a opinião franco-alemã que recusa a emissão de títulos europeus de dívida pública (eurobonds), é o Reino Unido que, não integrando o euro, vem defender essa medida como condição de defesa da moeda europeia. O paradoxo, porém, é apenas aparente.


Defensor, desde sempre, duma visão predominantemente económica do processo de integração europeia, apostando sempre muito mais na sua dimensão económica do que na sua dimensão política, e tendo nos restantes parceiros comunitários os seus principais interlocutores comerciais, é do mais absoluto interesse do Reino Unido que a Europa da União, e particularmente a sua zona euro, ultrapasse o mais rapidamente possível o momento de turbulência que vive e que aparece associado às dívidas soberanas de alguns dos seus Estados da periferia, num movimento, de resto, que se está a aproximar do centro da Europa e parece já não querer poupar, sequer, algumas das suas principais economias. O pior que podia suceder a Londres era ter de kidar com o desmembramento da moeda única europeia e com o cenário previsivelmente catastrófico que daí adviria e que daí resultaria. Dito de outra forma - é do interesse britânico a manutenção da moeda única, não para a ela aderir mas para com ela poder continuar a relacionar-se.

 

É nesta lógica e sob este prisma, essencialmente egoístico, que deve ser entendida a preocupação do Reino Unido com a moeda única europeia - à qual, de resto, sempre se recusou a aderir, recusando sistematicamente abrir mão da sua estrelina nacional. E é também a esta luz que se deve perceber a defesa ou sugestão de criação dos célebres «eurobonds» ou títulos europeus de dívida pública que permitiriam uma mutualização das dívidas soberanas dos Estados que compartilham o euro como moeda própria. Com o detalhe, nada dispiciendo de, não integrando o eurogrupo, Londres se eximir a participar nos necessários e indespensáveis custos financeiros associados à criação desse instrumento de dívida pública europeia (recorde-se que, mantendo-se fora do eurogrupo, o Reino Unido já não participa directamente no esforço financeiro dos resgates europeus em curso, exceptuando, por razões específicas, o ocorrido com a República da Irlanda mas, mesmo aí, com base em acordos bilaterais e não no âmbito do Fundo de Estabilização Financeira).

 

É, pois, mais aparente do que real o paradoxo que resulta das palavras do Ministro das Finanças britânico - determina-o e move-o, essencialmente, o seu interesse nacional específico, mais do que o próprio interesse comunitário.

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publicado por Joao Pedro Dias às 23:11

Crónica de um fracasso anunciado

Terça-feira, 19.07.11

Quando toda a Europa política, económica e social reclama resultados concretos da Cimeira da Zona Euro da próxima quinta-feira, , a Sra Merkel vem antecipar, aqui, que nada de espectacular se irá passar no dito encontro. Traduzindo do jargão europês para português corrente: a Alemanha irá bloquear qualquer decisão para resolver a crise grega e as suas irradiações à Irlanda, Portugal, Itália, Espanha e Bélgica. Insistindo em soluções essencialmente unilaterais, excluindo liminarmente a mutualização da dívida dos países em dificuldades, rejeitando totalmente a criação de eurobonds ou obrigações europeias e teimando na participação dos privados em qualquer eventual renegociação das dívidas dos Estados-Membros da União intervencionados - a Alemanha coloca-se numa posição que faz dela mais uma parte do problema do que da solução europeia. Os mercados, os especuladores e todos aqueles que apostam na queda da moeda comum europeia, agradecem, reconhecidos, o serviço que lhes está a ser prestado. Quem tiver dúvidas que atente na evolução quer dos índices bolsistas quer das taxas de juro das dívidas públicas. A história, por seu lado, essa seguramente não deixará de julgar os carrascos do projecto europeu.

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publicado por Joao Pedro Dias às 20:15

A desvalorização do euro

Segunda-feira, 18.07.11

O primeiro-ministro concordou hoje com o Presidente da República que defendeu uma desvalorização do euro face ao dólar, considerando que um euro menos valorizado poderia trazer, do ponto de vista económico, mais exportações e competitividade para toda a Europa. Nesta mesma página, há mais de um ano, aquiaqui, havíamos já identificado esse como sendo o grande dilema que, no plano monetário, se coloca(va) à União Europeia, presa numa verdadeira encruzilhada. Constataram a verdade mas nem Cavaco nem Passos Coelho descobriram a pólvora....

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publicado por Joao Pedro Dias às 01:36

Está resolvido o mistério!

Segunda-feira, 11.07.11

É a Itália (quando muitos esperavam que fosse a Espanha).

Já não me interessa saber quem é o próximo; começa a ser desinteressante, este jogo. O que verdadeiramente me interessa é saber até quando a dita União Europeia pactuará com estes ataques especulativos à sua moeda, à moeda que criou. Quando dará aos ditos mercados o sinal que se impõe - o sinal de que um ataque à dívida soberana de um qualquer dos seus Estados será entendido como um ataque a toda a União, motivando uma reacção conjunta e única dessaa mesma União. Até lá, até esse momento, iremos continuar a assistir a estes ataques e à impassividade da União. Até ao momento em que alguém a resolva pôr em causa.

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publicado por Joao Pedro Dias às 16:29