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Saudades de Kohl - by José Cutileiro

Terça-feira, 31.01.12
"Tip O’Neill presidiu à Câmara dos Representantes em Washington de 1977 a 1987 e dizia: All politics is local politics – toda a política é política local. Como bom americano estava a pensar em política interna: tudo o que se resolvesse em Washington, os compromissos precisos para chegar às grandes decisões nacionais exigiam satisfação de pequenos caprichos das parvónias de uns ou doutros. De resto, quem entrar no Congresso dos Estados Unidos poderá ver carradas de visitantes – homens, mulheres, crianças – vestidos com à-vontade transatlântico, procurando encontrar o seu Senador ou o seu Representante, olhando para a História nos retratos das paredes, bebendo coca- -cola, falando e rindo alto e bom som. O Congresso é deles.

O aforismo aplica-se a política internacional mas de maneira diferente. A política interna determina a política externa. Quando um país for forte, a sua própria política interna; quando não o for – e é essa a diferença – a política interna de países que o sejam. 

Nos dias inglórios da chamada aventura europeia que vivemos de há dois anos para cá, as medidas de rigor tomadas por Conselhos Europeus, isto é, por acordos internacionais a 27 que nos estão a afundar na recessão económica em vez de nos ajudarem a sair do buraco, têm sido ditadas por razões de política interna. Não das políticas internas dos 27 membros da União, mas de política interna alemã. Nas frequentes eleições estaduais da República Federal, os partidos que apoiam Angela Merkel têm perdido sempre, desde a eleição nacional que a levou ao poder. A Senhora faz o que pode para tentar recuperar votos – até passou, de um dia para o outro, a condenar centrais nucleares na produção de electricidade que sempre defendera –, afirma seguir a vontade do povo quando faz impor austeridade punitiva às gentes do Sul e diz que não a medidas que aliviariam esta (intervenção do Banco Central Europeu; obrigações europeias; maior fundo de emergência europeu). A oposição social-democrata que espera voltar ao poder em 2013 é contra essa austeridade e preferiria medidas que fomentassem crescimento. 

Assim, uma razão de política interna alemã – a convicção da Chanceler de que a maioria dos alemães não quer gastar mais um euro a ajudar outros europeus e a vontade dela de lhes agradar – foi ditando decisões da União cada vez mais custosas e funestas. 

Depois de 2 anos de crise, outros dirigentes europeus estão menos mesmerizados pela Berlim de Angela Merkel e acordam de uma espécie de sonambulismo; ameaças de Pax Germanica alarmam toda a gente (até os finlandeses); políticas internas de cada um reclamam direito de cidade – o afundamento económico da Europa que a curteza de vistas da Senhora ajudou a cavar talvez seja evitável.

A crise desencadeada quando Papandreu veio dizer que a Grécia tinha viciado as contas poderia ter sido a oportunidade da Alemanha se redimir de vez. Faltou a grandeza de um Kohl e vai levar muito tempo tornar a pôr a Europa no são." [Fonte]

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publicado por Joao Pedro Dias às 23:45

Saudades desta União Europeia

Domingo, 29.01.12

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publicado por Joao Pedro Dias às 02:55

Angela Merkel, esquisso biográfico

Segunda-feira, 09.01.12

Um excelente contributo biográfico sobre a Chanceler Ângela Merkel, que permite compreender os seus principais traços de personalidade, as suas deslealdades perante quem lhe deu a mão e, indirectamente, parte significativa da postura política e das políticas em que aparece empenhada. A ler! [Fonte]


"A chancela da senhora Merkel


Quando o muro de berlim começou a ser erguido, em 1961, Herlind Kasner sentou-se sozinha na igreja a chorar. O seu marido, Horst, sentia-se aliviado: o pastor luterano que trocara Hamburgo, na República Federal Alemã, com o objectivo de espalhar a palavra de Deus no Leste comunista não voltaria a questionar a decisão pois já não tinha forma de voltar às origens.


Nem um nem o outro imaginavam que Angela, a sua filha mais velha então com cinco anos, viria a tornar-se a primeira mulher e primeiro cidadão do Leste a governar a Alemanha reunificada. E muito menos que a sua missão passasse por salvar uma União Europeia então acabada de nascer como alicerce da paz num continente marcado pela guerra.


Nada na época fazia adivinhar um futuro desses: a jovem sonhava tornar-se professora e tradutora, talvez influenciada pelos ensinos de inglês e latim que representavam o ganha-pão da mãe, e revelava-se uma excelente aluna, limitada apenas pela timidez. Angela só dava nas vistas involuntariamente, como quando revelava uma falta de aptidão física que contrastava com os alunos de um país que ostentava no desporto o orgulho na sua formação.


Mas já aí mostrava uma determinação fora do comum, sustentada na obsessão de seguir as regras que agora transporta para os seus parceiros europeus: quando foi forçada a ultrapassar um dos seus maiores receios de criança – mergulhar para uma piscina – Angela subiu até à prancha mais alta e ali ficou a combater os seus medos até que, ao soar do toque que assinalava o final da aula, saltou para a água.


Como a grande maioria dos alunos da República Democrática Alemã (RDA), Merkel pertenceu à Juventude Livre Alemã, o movimento jovem ligado ao partido do regime. Chegou a ter um lugar de destaque na comissão de Agitação e Propaganda, mas quando é questionada sobre as tentativas da polícia secreta da RDA – a Stasi – em recrutá-la, Merkel diz que respondeu ser demasiado «fala-barato para ser uma informadora».


Em 1973 mudou-se para Leipzig, onde completou a licenciatura em Física, mais tarde enriquecida por um mestrado em Física Quântica, e onde iniciou a relação com Ulrich Merkel, o homem com quem estaria casada entre 1977 e 1982 e de quem herdou o nome que ainda hoje ostenta. Uma relação cujo final ajuda a perceber por que os críticos de Merkel a consideram «fria», pois, segundo Ulrich, tudo acabou num diaem que Angela«arrumou as coisas e foi-se embora». Sem discutir nem explicar as suas razões, Merkel decidiu abandonar o seu primeiro casamento levando apenas o frigorífico.


Por essa altura já o casal vivia em Berlim Oriental, com Angela a trabalhar no Instituto de Físico-Química da Academia de Ciências ao mesmo tempo que aprendia a língua russa, que hoje fala fluentemente.


Do SPA para o Governo


Merkel manteve-se em Berlim e nas Ciências durante os anos 80 e só a queda do muro revelaria a sua faceta política. Mas não no imediato, pois muita tinta já fez correr a reacção de Angela Merkel ao anúncio de 9 de Novembro de 1989, que permitia aos cidadãos do Leste cruzarem o muro rumo a Berlim Ocidental e à República Federal Alemã (RFA): segundo um perfil recentemente publicado na Newsweek, a futura ‘Dama de Ferro’ da Alemanha e ‘Senhora Não’ da Europa preferiu seguir para a sua sessão semanal de spa a ir assistir ao vivo a um acontecimento histórico.


Mas logo depois seguiu o caminho de muitos dos seus colegas cientistas orientais: pressionados pela concorrência mais apta vinda do Ocidente e pela novidade trazida pela pluralidade de partidos, muitos foram o que seguiram para o mundo político. Merkel decidiu dedicar a próxima etapa da sua vida a «servir a Alemanha» e para tal filiou-se no movimento Amanhecer Democrático. Mas rapidamente se mudou para a União Democrata-Cristã da RDA e em Abril de 1990 pertencia já ao gabinete de imprensa de Lothar de Maizière, o último primeiro-ministro do leste germânico.


O salto para a liderança da CDU


Apenas oito meses depois, em Dezembro de 1990, Merkel era recrutada por Helmut Kohl para o seu terceiro gabinete – o primeiro da Alemanha reunificada. No perfil em que apresentava Merkel como próxima chanceler alemã, em 2005, a revista New Yorker contava que «Helmut Kohl foi o homem que explicou o mundo a Angela Merkel». E os seus primeiros passos nos Executivos do mentor provam de que mais do que uma política com doutrina formada, Merkel é uma mulher que gosta de aprender antes de abraçar as causas que resolve defender. Começou como ministra das Mulheres e da Juventude, «um ministério pequeno» onde podia trabalhar «sem muito stresse». Aí, para os olhos da opinião pública germânica, ela era uma feminista assumida. Depois, em 1994, passou para a chefia do Ministério do Ambiente e sem surpresas tornou-se uma ambientalista, com destaque para a sua participação nas negociações que resultariam no Protocolo de Quioto.


Apesar de ir ganhando reputação, Merkel passaria o reinado de Kohl a ser tratada como «a miúda» do chanceler. Um título que odiava tanto como agora odeia a moda europeia de juntar o seu nome ao do Presidente francês – o ‘Merkozy’ que decide os destinos da Europa. E a revolução que Merkel provocou dentro da União Democrata-Cristã (CDU) após a derrota de Kohl frente a Gerhard Schröder em 1997, mostra que talvez não tenha sido boa ideia para o veterano a forma despreocupada como se referia ao membro mais novo do seu Governo.


«Formal, directa e sem apetite para conversas de circunstância» – foi assim que a jornalista da New Yorker descreveu Angela Merkel após a entrevista de 2005. Qualidades que ficaram bem expostas na carta aberta que a então estrela em ascensão da CDU, com 45 anos, publicou no rescaldo da derrota eleitoral dos conservadores, cuja liderança envelhecida era ainda desgastada por sucessivos casos de corrupção.


Escolhendo o diário mais lido pelos conservadores alemães, o Frankfurter Allgemeine Zeitung, Merkel anunciou o fim da «era de Helmut Kohl». E convicta de que Kohl não renunciaria voluntariamente à liderança do partido de forma «rápida e completa para dar lugar aos sucessores da nova geração», Merkel comparou o partido a um adolescente que «tem de cortar os seus laços com os pais e começar a sua própria vida». Tal como fizera ao abandonar Templin rumo a Leipzig com 19 anos, Merkel desafiava a CDU a fazer o mesmo: «Cabe-nos a nós, que agora temos responsabilidade no partido, pegar no futuro com as nossas mãos».


Por esta altura já Angela voltara a casar e outra vez com um cientista, Joachim Sauer. Uma estrela da química quântica que é apontado como futuro vencedor de um Nobel e que não gosta de viver a vida pública da mulher. Numa das suas poucas aparições públicas, na festa que organizou para os 50 anos de Merkel, Sauer terá dado nas vistas na hora do recolher: «Vamos Angela, eu não sou político e amanhã tenho de trabalhar cedo», terá dito à frente de ilustres convidados assim que soaram as badaladas da meia-noite. Apesar dos 14 anos que levam juntos, a família conta apenas os dois filhos do primeiro casamento de Sauer, porqueAngela diz«não precisar de filhos» para se sentir «uma mulher completa».


A carta que ditou o fim da era Kohl caiu como uma bomba em cima dos veteranos que controlavam o partido e seduziu os milhares de delegados da CDU que esse ano se juntaram em Congresso. Em Abril de 2000, Angela Merkel tornava-se a primeira mulher a liderar a formação política conservadora. Uma liderança que surgia no início de ciclo social-democrata, logo deixando os ‘falcões’ da CDU com tempo para preparar o ataque à liderança.


Mas Merkel deu mais mostras do seu pragmatismo: em 2002 abandonou as primárias do partido a meio da corrida, deixando caminho aberto para Edmund Stoiber, o então Governador da Baviera e homem-forte do maior parceiro de coligação da CDU, a União Social-Cristã (CSU). Como esperado, Schröder foi reeleito e ninguém atribuiu culpas à líder do partido.


Eleita deputada, começou a liderar a oposição nas bancadas do Bundestag – o Parlamento alemão – retirando espaço dentro do partido para que houvesse outra candidatura que não a sua em 2006. E assim foi, mas um ano mais cedo graças a outro veterano que não deu o devido valor à adversária: Gerhard Schröder levou deputados do seu próprio partido a votarem contra si numa moção de confiança que tinha como objectivo forçar a antecipação das eleições. Um tiro que saiu pela culatra, pois Angela Merkel conseguiu mesmo ser a mais votada numa eleição marcada pela sua promessa de aumentar o IVA e pelo sapo engolido por Helmut Kohl, que teve de ir a público apoiar a 'sua' «miúda».


E mesmo quando ninguém acreditava que formaria uma coligação maioritária, convenceu os sociais-democratas a formar uma grande coligação. Assim governou durante quatro anos, com dificuldade para impor as suas anunciadas reformas de disciplina fiscal mas com capacidade suficiente para ser eleita pela revista Forbes como a mulher mais influente do mundo por quatro anos consecutivos. Até que os alemães foram de novo chamados às urnas e Merkel reforçou a maioria, ainda assim com necessidade de recorrer a parceiros, desta feita os liberais do FDP.


Foi aí que a Europa lhe rebentou nas mãos. Kohl promoveu o euro como garante da estabilidade no Velho Continente, e a sua seguidora também o considera um assunto de guerra ou paz. «Se o euro cair, a Europa vai atrás», afirmou recentemente no Parlamento. E perante uma geração de alemães mais preocupada com o dinheiro enviado para os incumpridores do que com o passado bélico do país, Merkel é igual a si mesma: em Bruxelas exige austeridade como moeda de troca para mais ajudas, em Berlim passa a vida a lembrar que em Espanha «mais de 50% dos jovens estão desempregados». É esse segredo, segundo os seus biógrafos, que a faz demorar tanto a tomar as decisões mais importantes."

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publicado por Joao Pedro Dias às 02:15

Preparem-se, a Europa está a morrer - by Helena Garrido

Terça-feira, 06.12.11

"A União Europeia e o euro estão a morrer às mãos da Alemanha. Pela Alemanha nasceram, por causa da Alemanha arriscam a morte. 

Hoje todos aceitam as directivas de Angela Merkel que Nicolas Sarkozy finge serem também da França. Estamos submergidos pelas dívidas e subjugados pelo terror do fim do euro. Mas a humilhação dos povos, pelos menos de alguns, paga-se. 

As bolsas festejaram, as taxas de juro caíram e os líderes do outro lado do Atlântico respiraram de alívio. Mas tudo pode ser efémero. Pela actuação dos investidores e pelo que a história ensina dos povos europeus. 

Os que ditam as regras do mercado, claro, reagem mais rapidamente que os povos. Ontem, ao fim do dia, a agência de "rating" Standard & Poor's revelava ao "Financial Times" a possibilidade de baixar o "rating" da Alemanha, França, Holanda, Áustria, Finlândia e Luxemburgo que hoje contam com a nota máxima (três A). Basta a França perder o valor de país sem risco para o mesmo acontecer ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) que está a angariar recursos para países como Portugal. No outro lado do Atlântico, onde se compreende muito bem como funciona a economia financeira, valem zero as conversas sobre revisões de tratados e regras de disciplina financeira que levam meses e são ditados por dois países em 17 ou 27. 

Deste lado do Atlântico, quem conhece a Europa, sabe que a dupla Merkzozy traçou um caminho incerto para ganhar a batalha do colapso imediato do euro mas aprofundou ainda mais as feridas, abertas desde que esta crise começou em 2010, na soberania e na democracia dos países europeus e da União Europeia. 

A Europa de Jean Monnet foi construída com os valores do respeito pelo outro, num tempo em que a Alemanha não era a grande Alemanha, mas a Alemanha saída da guerra - como este fim-de-semana lembrou Helmut Schimdt. Os tratados foram sempre revistos num ritual que respeita os valores da democracia e a diferença entre os povos. Nunca nasceram de reuniões entre a França e a Alemanha. Sim, a história conta que o euro nasce de um compromisso entre Paris de Miterrand e, na altura, Bona de Kohl. Eu, disse a Alemanha, concordo em partilhar a minha soberania monetária, e eu, disse a França, concordo com a unificação alemã. Mas nem por isso se deixou de construir um Tratado, o de Maastricht, com todos os rituais que os valores da democracia e liberdade exigem. 

A Alemanha prefere sacrificar os valores da democracia e da igualdade entre os povos no altar da sacrossanta proibição do financiamento monetário da dívida que vai alimentando ganhos financeiros. Sem se dar conta, a Alemanha está a ser cúmplice dos ganhos de milhões que muitos bancos, investidores, estão a obter, cobrando 6 a 7% aos Estados soberanos do euro para, com esses títulos, a renderem essas taxas, irem buscar dinheiro a 1% ao BCE. Porque o banco de Frankfurt pode deixar os bancos ganharem dinheiro à custa dos soberanos, mas não pode ajudar directamente os povos. Porque, na narrativa que nos vai sendo feita, os povos têm de ser castigados por terem gasto de mais. Sem que ninguém queira saber porque gastaram e como gastaram e muito menos quem foi que quebrou, sem consequências, a regra do Pacto de Estabilidade. 

Temos de nos preparar. Os povos sofrem, mas não esquecem. De Atenas a Dublin, passando por Lisboa, de Roma a Madrid, as feridas vão ficando. Podemos estar seriamente perante a vitória numa batalha que nos lança para a pior das guerras, a da desintegração europeia." [Fonte]

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publicado por Joao Pedro Dias às 10:45

Ex-chanceler Schmidt acusa Governo alemão de visitar mais o Médio Oriente do que Lisboa ou Atenas

Domingo, 04.12.11

Outra das vozes de ontem que devem ser ouvidas e escutadas hoje. E que, à semelhança das anteriores que se têm feito ouvir (Kohl, Delors...) é implacável para com a política europeia de Merkel. Como não é possível estarem todos enganados ao mesmo tempo, a prudência mandaria escutar os seus conselhos e aprender com os seus ensinamentos...

 

"O ex-chanceler alemão Helmut Schmidt (SPD) criticou neste domingo o actual ministro dos Negócios Estrangeiros, Guido Westerwelle (liberal, FDP), de “visitar mais vezes o Médio Oriente do que Lisboa ou Atenas”, apelando a mais solidariedade de Berlim para os parceiros europeus. Schmidt tem discordado frontalmente da política europeia da chanceler Angela Merkel (CDU) e atribui a chamada crise do euro à “conversa fiada” de jornalistas e políticos, fazendo uma clara profissão de fé na integração europeia. “Não podemos esquecer que a reconstrução da Alemanha após a guerra não teria sido possível sem o apoio dos parceiros ocidentais e, por isso, temos o dever histórico de mostrar solidariedade com outros países, o que se aplica especialmente à Grécia”, disse Schmidt num comício que antecedeu a abertura do congresso dos sociais-democratas (SPD), em Berlim, e em que participaram cerca de 9000 pessoas. Schmidt advertiu ainda contra eventuais demonstrações de força da Alemanha perante os parceiros europeus, afirmando que o nacionalismo alemão “causa sempre incómodo e preocupação nos vizinhos”. Na opinião do decano da política germânica que, aos 92 anos, continua a ser uma figura marcante da vida do país, a confiança na política alemã “sofreu danos, devido a erros na política externa e ao poder económico exercido” por Berlim. Se a Alemanha “cair na tentação de asumir um papel de liderança na Europa, os vizinhos vão defender-se cada vez mais”, advertiu Schmidt, que não usou da palavra nos últimos congressos do SPD, depois de, em 1998, ter apoiado abertamente a candidatura a chanceler de Gerhard Schroeder. “É fundamental para os interesses estratégicos que a Alemanha não fique isolada de novo”, acrescentou o economista que dirigiu os destinos da Alemanha entre 1974 e 1982. “Entretanto, sou um homem muito velho e a favor de uma completa integração porque se a União Europeia não conseguir actuar em conjunto alguns países ficarão marginalizados. E isso será muito perigoso porque atiçará os velhos conflitos entre a periferia e o centro da Europa”, sublinhou Schmidt." [Fonte]

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publicado por Joao Pedro Dias às 03:25

"Zona euro está a dar uma imagem desastrosa" - Jean-Claude Junker

Sexta-feira, 21.10.11

"O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, disse hoje que a zona euro está a dar uma "imagem desastrosa" para o exterior, devido às dificuldades em encontrar uma solução para a crise da dívida soberana da Europa. "O impacto no exterior é desastroso porque não estamos a dar um bom exemplo de liderança", assinalou Juncker em Bruxelas, à entrada para a reunião do Eurogrupo, que reúne os ministros das finanças da zona euro, entre os quais Vítor Gaspar, que escusou-se a prestar declarações aos jornalistas à chegada. A tradicional conferência de imprensa do presidente do Eurogrupo, prevista para o final da reunião, foi entretanto cancelada. À entrada da reunião, Juncker sublinhou ainda que não têm de ser necessariamente a França e a Alemanha a impulsionar, mediante a resolução das suas divergências, a melhor forma de combater a crise, sustentando que as decisões devem ser tomadas pelos 17 países da Zona Euro. A reunião de hoje dos 17 titulares das pastas das finanças marca o arranque de uma verdadeira "roda viva" de reuniões e cimeiras que terão lugar ao longo dos próximos dias em Bruxelas, nas quais a Europa vai tentar acordar finalmente uma resposta convincente para os mercados e que ponha um travão na espiral da crise da dívida soberana. Num encontro que se prevê longo -- teve início às 14h locais (13h de Lisboa) e, segundo o comissário europeu dos Assuntos Económicos, Olli Rehn, deverá terminar perto da meia-noite -, os 17 vão discutir hoje o desembolso da sexta tranche de ajuda à Grécia, com base numa apreciação do relatório da missão da troika que regressou recentemente de Atenas." [Fonte]

 

Do meio da mediocridade geral que nos governa, é ainda a voz de Jean-Claude Junker, Primeiro-Ministro do Luxemburgo, uma das poucas - talvez mesmo a única - que emerge como referencial de ponderação, equilíbrio e moderação. É o que sobre e resta da geração de ontem que parece ter sido a última a dar corpo e vida ao sonho e ao projecto europeu. Não é de estranhar - como decano dos líderes europeus em funções, ainda lhe foi dado conviver e coincidir com os últimos fautores do ideal europeu, chamassem-se eles Helmut Kohl, François Mitterrand, Jacques Delors, outros mais. Mas também pode servir de exemplo noutro plano - demonstrando à saciedade que, mesmo dum micro-Estado europeu, podem emergir vozes autorizadas, europeístas, credíveis e escutadas. Quer PPC quer PP podem ter em Junker um exemplo a seguir e um modelo a observar. Mostrando que uma situação económica difícil não pode nem deve diminuir a capacidade política de um Estado se exprimir e expressar no quadro das instituições comuns.

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publicado por Joao Pedro Dias às 22:41

Merkel sugere perda de soberania para quem não cumprir critérios de estabilidade

Segunda-feira, 26.09.11

"A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu o agravamento de sanções a países da zona euro que não cumpram os critérios de estabilidade, incluindo a perda de soberania, em entrevista ontem à televisão pública ARD. “Quem não cumprir, tem de ser obrigado a cumprir”, afirmou a chefe do governo alemão, sugerindo ainda alterações aos tratados europeus para que os países prevaricadores possam ser processados no tribunal europeu de justiça, se necessário". [Fonte]

 

A ousadia da lembrança, que facilmente raia o atrevimento, deve levar-nos a recordar, sobretudo aos desatentos, que a Alemanha - conjuntamente com a França - foi dos primeiros Estados a violar o Pacto de Estabilidade e Crescimento fixado em Maastricht. E que, nessa altura, tanto o Conselho como a Comissão Europeia optaram por não avançar com processos por défices excessivos justamente por um dos incumpridores ser a.... Alemanha!

 

Mas a ignorância da senhora também raia o confrangimento. Nem sequer ao nível semântico se dá ao trabalho de ser rigorosa e precisa. Ignorância histórica, certamente, mas também uma mal-escondida formação marxista-leninista produto da ex-RDA que não é capaz de reconhecer e assumir que no século XX, por duas vezes, a Europa teve de lutar contra os seus próprios demónios internos. E que em ambos os casos, esses demónios eram germânicos. E que, sobretudo da última vez, só com o auxílio externo (EUA) a Europa foi capaz de vencer e expulsar esses mesmos demónios...

 

Uma coisa parece certa, segura e evidente: antecessores da dita senhora, do calibre e dimensão de um Helmut Kohl, de um Helmut Schmidt ou de um Willy Brandt, para já não falarmos de um Konrad Adenauer, obviamente, nunca se dariam ao desplante e atrevimento de proferirem tais declarações. É que eles sentiram na pele as agruras do segundo conflito mundial, souberam ousar, corporizar e construir o projecto europeu, sonharam-no e construiram-no e empenharam-se na sua efectivação. Hoje há quem pareça mais empenhado em obstaculizá-lo do que em concretizá-lo. E isso faz toda a diferença.

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publicado por Joao Pedro Dias às 01:12

Palavras sábias

Quinta-feira, 25.08.11

«Temos de ter cuidado para não jogarmos tudo fora. Temos de regressar rapidamente à nossa velha confiabilidade que sempre foi a nossa âncora. Se a abandonarmos, a base de confiança será perdida, a incerteza alastrará e, no final, a Alemanha estará isolada» - Helmut Kohl, sobre a política europeia de Angela Merkel.

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publicado por Joao Pedro Dias às 13:57

Ex-chanceler Helmut Kohl critica Merkel e alerta para perigos na UE

Quarta-feira, 24.08.11

"O antigo chanceler alemão Helmut Kohl criticou, esta quarta-feira, a actuação de Angela Merkel e alertou para o perigo de desmoronamento da União Europeia. Helmut Kohl, que é do mesmo partido que Angela Merkel (CDU), advertiu, numa entrevista à imprensa, para o perigo de um desmoronamento da União Europeia e defendeu o apoio aos países em dificuldades, porque, considerou, não há outra solução para evitar o descalabro da Europa comunitária. «Comigo a Grécia não tinha entrado para o grupo» e «a Alemanha nunca tinha violado o pacto de estabilidade», disse, criticando indirectamente Angela Merkel. «A Europa precisa de um pacote de medidas inteligentes, equilibradas e voltadas para o futuro para podermos regressar ao bom caminho», defendeu o homem que foi chanceler de 1982 a 1998 e que também está descontente com a política externa alemã. «Deixámos de ser um país de actos previsíveis na política externa e interna», considerou. «Para onde vai, para onde quer ir a Alemanha», perguntou, referindo-se à política transatlântica. Antes era impensável o presidente norte-americano vir à Europa sem passar pela Alemanha, disse, referindo-se à última visita de Barack Obama. «Temos de ter cuidado para não pormos tudo em jogo», rematou. Também o presidente da República da Alemanha criticou, esta quarta-feira, a gestão da crise na Europa e atacou o Banco Central Europeu (BCE) pelo facto de comprar títulos do tesouro dos países em crise." [Fonte]

 

Nesta Europa sem norte e sem rumo, ainda é reconfortante escutar algumas vozes da razão que, esporadicamente, se vão ouvindo. Helmut Kohl é uma delas, quiçá a maior de entre as maiores. Traído e abandonado pela Sra Merkel, votado ao ostracismo pela sua antiga seguidora, tem deixado, recentemente, à laia de testamento político, apontamentos diversos sobre o rumo da União que ajudou a construir e que está a ver ruir. São alertas que devem ser ouvidos e escutados porque levam ínsitos a essência do verdadeiro espírito europeu, recentemente tão perdido e tão esquecido.

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publicado por Joao Pedro Dias às 22:52

Helmut Kohl critica a Angela Merkel y teme que ésta le 'rompa' su Europa

Domingo, 17.07.11

Já tínhamos saudades de escutar a voz sensata do europeísmo responsável, recordando-nos os tempos em que a Europa da União tinha um rumo, uma ambição e um objectivo político - todo o contrário do desnorte que nos tem sido presenteado nos tempos recentes.

 

"El excanciller Helmut Kohl teme que la actual jefa del Gobierno alemán, Angela Merkel, le rompa su proyecto de una Europa unida, según informaciones del semanario 'Der Spiegel', que cita fuentes del entorno del político. La línea de la política europea que lleva a cabo Merkel es "muy peligrosa", según se cita en esa publicación a Kohl, quien habría confesado a un correligionario y estrecho colaborador sus temores a que la canciller "me rompa mi Europa"El ex canciller alemán Helmut Kohl, uno de los principales artífices de la unión de Europa, destacó los errores cometidos por su país en la crisis que atraviesa la eurozona"Dos puntos sobresalen: en primer lugar, el Pacto de Estabilidad de la eurozona nunca debiera haber sido suavizado, sino al contrario, debería haber sido fortalecido a través de una Europa cada vez más unida", sostuvo Kohl en un artículo que adelanta este domigo el diario 'Bild'. El ex jefe de gobierno alemán se refería a la década del los 90, cuando tanto Alemania como Francia sobrepasaron de forma repetida el techo máximo de tres por ciento de déficit presupuestario y forzaron a la Unión Europea a suavizar las sanciones para estos casos. "Y en segundo lugar, Grecia no debería haber sido nunca aceptada en la eurozona sin reformas estructurales radicales de su situación, teniendo en cuenta que era suficientemente conocida por los expertos", criticó. Ambas decisiones son las principales causas de los problemas actuales y fueron respaldadas por Alemania bajo el gobierno de centroizquierda de Gerhard Schröder, sostuvo el ex líder democristiano. Kohl opinó que la crisis de la deuda no debe ser vista como una crisis del euro, sino como lo que es: "El resultado de errores caseros y desafíos por parte y para ambas partes (Europa y los Estados nacionales)". Las críticas a la estrategia europea de Merkel no son exclusivas del excanciller o su entorno, sino que se han hecho extensivas a otros correligionarios de la Unión Cristianodemócrata (CDU), prosigue ese medio. "Europa es un proyecto político. Es demasiado importante como para dejarlo a manos de las agencias calificadoras", advierte el primer ministro del "Land" de Hesse, Volker Bouffier, asimismo de la CDU. Las relaciones entre Kohl y Merkel se normalizaron el año pasado, al elogiar la canciller la trayectoria del patriarca de la CDU en ocasión del 80 cumpleaños del veterano político. Con el gesto se selló la reconciliación el largo periodo de distanciamiento, abierto cuando en 1999 Merkel llamó a sus filas a "emanciparse" del patriarca al revelarse el escándalo de la financiación irregular en la CDU bajo la llamada "era Kohl". [Fonte] 

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publicado por Joao Pedro Dias às 01:09