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A Cimeira UE - Brasil ou a crónica de um sucesso mediático anunciado

Quarta-feira, 04.07.07

O profissionalismo que comanda as diplomacias contemporâneas - elas também escravas da mediatização que rege a vida das repúblicas modernas - faz com que, em situações normais, o sucesso de cimeiras do género da que hoje reuniu a União Europeia e o Brasil já esteja garantido antes mesmo das cimeiras terem o seu início público. Por regra, aquilo que a imprensa e os órgãos de comunicação social passam é apenas o espectáculo e a festa que são montados para fins mediáticos e para espectador ver; os acordos, as conclusões, essas estão antecipadamente escritas e consensualizadas, os objectivos pré-definidos e, quando não há garantias de assim suceder, por norma e por via de regra.... não há cimeira alguma. O princípio também se aplica na íntegra ao que aconteceu hoje na Cimeira UE - Brasil. O sucesso do encontro Sócrates - Lula - Barroso, em bom rigor, estava garantido antes mesmo de a reunião ter começado. O que não invalida que, das declarações finais e das conclusões da Cimeira, não se retirem três aspectos importantes que podem ficar registados para memória futura. Em primeiro lugar e desde logo o facto de ter ficado agendada para o segundo semestre do próximo ano, quando a União for liderada por Sarkozy, a realização da segunda cimeira, na altura a reunir no Brasil. Se se pretende incluir estes encontros na agenda regular da União, é imprescindivel que os respectivos agendamentos sejam atempadamente efectuados, à semelhança do que ocorre com idênticos encontros periodicamente realizados com outras potências regionais. Em segundo lugar, foi importante assumir a assinatura de uma parceria estratégica entre a UE e o Brasil nessa segunda cimeira. Foi, talvez, o mais evidente e concreto resultado prático que saiu deste encontro de Lisboa. Se, efectivamente, a União pretende solidificar o seu relacionamento com a América latina, é fundamental que esteja alicerçada numa parceria estratégica com a potência regional dominante. A assinatura desse acordo é, pois, um resultado evidente e positivo desta Cimeira. Em terceiro lugar, resultou do encontro de Lisboa uma declaração de empenho de ambos os participantes no sucesso da ronda de Doha, visando a liberalização do comércio mundial no quadro da OMC - o que só será possível de concretizar se os diferentes blocos regionais se entenderem entre si e derem efectivas mostras e sinais de estarem dispostos a abdicar de algo em troca do necessário acordo que a todos aproveite. A declaração de intenções era expectável - resta saber como, a nível técnico, a mesma poderá ser concretizada e operacionalizada, posto que frequentemente é aí que se deparam os pequenos-grandes obstáculos que se encarregam de impedir a concretização das grandes e solenes proclamações políticas. Em síntese - se o sucesso mediático da Cimeira estava garantido antes mesmo da Cimeira começar, as suas conclusões terão ido um pouco além do mínimo exigível - restando aguardar sobre a efectiva concretização das declarações solenes proclamadas com a dignidade própria destes momentos.

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publicado por Joao Pedro Dias às 11:32