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Cracóvia, 2,5 milhões

Segunda-feira, 19.08.02
As televisões do mundo inteiro não foram parcas em imagens. E estas impressionaram pela sua dimensão e amplitude. A Eurcaristia campal celebrada pelo Papa João Paulo II, na nona visita pastoral à sua Polónia natal, terá sido a maior manifestação ou celebração religiosa alguma vez realizada ao cimo da Terra, num único local. Mais de dois milhões e quinhentas mil almas, ao vivo, escutaram a voz débil do sucessor de Pedro. A grande ilação, que se transforma em certeza que contribui para alimentar a Fé dos crentes, é que, para além da Igreja católica, nenhum outro movimento ou organização teria semelhante capacidade de mobilização e conseguiria juntar tantos seguidores, em pleno mês de Agosto, e em qualquer parte do Mundo. Por isso a dúvida é pertinente e justifica-se plenamente: o que fará com que a figura doente e frágil de Karol Woytjla, com os seus 82 sofridos anos, concite à sua volta tamanha onda de entusiasmo e tal capacidade de mobilização? A simples empatia pessoal dos fiéis polacos com a figura primeira da cristandade, de visita à sua pátria amada, será razão que justificará algo. Porém, não explicará tudo.
A essência da resposta deverá, salvo melhor opinião, buscar-se no conteúdo da mensagem e da doutrina de que o Pontífice se fez eco. Alertando o Mundo para a necessidade de a liberdade ser vivida com responsabilidade e para o facto de esse mesmo Mundo parecer viver como se Deus não existisse – dando como exemplo os casos do desenvolvimento desregrado da engenharia genética e da eutanásia – o Papa deu mais uma mostra insofismável de que a dimensão divina está a reocupar um lugar de destaque na comunidade internacional em mudança e ousou ser politicamente incorrecto e denunciar os erros graves de uma globalização selvagem que oprime e explora tanto quanto os poderes erráticos que sucumbiram à ânsia de liberdade que derrubou as ditaduras do leste europeu no inicío da década de noventa. O rebanho percebeu a mensagem do pastor. Curvou-se em silêncio ante as denúncias efectuadas pela voz tribunícia do Bispo de Roma. Limitou-se a entoar cânticos de esperança. Recusou a ideia mediática de uma viagem pela enésima vez anunciada como de despedida.
Numa sociedade em que, infelizmente, o ter tende a prevalecer sobre o ser, fazem bem estes momentos de chamada de atenção e o retorno aos valores que parecem tão arredios da vida pública. Dois milhões e quinhentos mil polacos acorreram à chamada e mostraram que, afinal, as doutrinas, as ideologias e as ideias não morreram – ao contrário do que, precipitadamente, se apressaram a proclamar os defensores das teses do fim da história. Sejam as doutrinas, as ideologias ou as simples ideias apelativas – e não faltará quem responda à convocatória. Na Polónia ou em qualquer outra parte do Mundo.

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publicado por Joao Pedro Dias às 02:46